Sou do tempo em que nas minhas férias de julho tínhamos brincadeiras simples, como jogar futebol, basquete, peteca, handebol, tênis, nadar, jogar banco imobiliário, cartas, ludo, jogar queimada e em especial no mês de julho ir para fazenda no município de Trindade/Goiás, correr nos campos e cerrados e nas estações próprias, catar pequi, pegar caju, comer ingá, pescar e até arapucas armar para pássaros aprisionar e logo depois fazê-los voltar ao lugar que a eles pertence por direito, a natureza e o ar; recolher ovos de galinhas no final da tarde, juntamente com Vovó Julia Ludovico Pinheiro Lacerda, minha amiga e eterna vovó; eram momentos bem simples, mas especiais e fazíamos deles registros felizes, em especial naqueles 30 dias, que passavam voando em relação à dimensão de nossos sonhos.
Como um desenho mágico da vida que Deus nos emprestou, recebemos o mês de agosto com a grande transformação divina de uma árvore típica do Cerrado, denominada, cientificamente de Caryocar brasiliense Cambess, ou nosso velho e conhecido pequizeiro.
Árvore daqui, nascida por aqui, entre campos, cerrados e cerradões, nas margens dos pequenos, médios e grandes riachos e rios, em especial do nosso belo e jovem amigo Rio Araguaia das terras de Goiatins*, onde mais acentuadamente nosso pé de pequi se apresenta sempre frondoso, alto, imponente, mas singelo, com sua bela copa em forma de guarda-chuva que refaz nossos tempos e sombras memoráveis de tantas infâncias, com valores ecológicos, culturais, gastronômicos, medicinais, econômicos, valores esses que se inserem e compartilham o dia a dia nas efêmeras vidas terrenas.
Hoje um ser humano mais experiente com os fótons que a vida nos apresenta e nos permitem receber, saio de casa a caminho da escola das crianças e percebo, logo ao amanhecer, no tecer dos ofícios do cotidiano da vida, um espetáculo nobre e divino dessa nossa árvore dos pequis. Suas flores deitadas ao chão sob a frondosa e bela copa, que mais parece um guarda-chuvas natural, parecendo que foram espalhadas por alguma mão especial e inseridas nas linhas de sua copa e em todo seu vazio, como se fosse uma sombra da copa em forma de flores, desenhadas fazendo nuvens e mais nuvens com sua cor amarelada, uma obra prima da criação Divina, um recorte da copa da árvore, simplesmente riscada e preenchida fazendo germinar novas vidas, deixando este registro em nossos olhos, corações e nos templos espirituais e mentais.
Suas flores exóticas, extremamente delicadas e frágeis com aroma particular para sua fecundação, de acordo com a botânica, com cheiro de homem em busca de procriação, mas na minha alma de poeta tem o cheiro de mulher em busca de procriação, que num passe de mágica em sua própria inspiração e que no simples sopro Divino se desgarram para longe de seu caule, completando, assim, o ritual estabelecido pela natureza para sua espécie e levando seu perfume peculiar ao destino que lhe é reservado noutro lugar.
Essa dança bela e singela da árvore ao vento, com suas flores e em breve frutos, fazem nascer em meu coração o seguinte poema: A gosto de Pequi: Minha pele tem espinhos, sou nativa do cerrado / Faço aroma de sabor único / Nos pratos do Goiano apaixonado / De Goiatins* em meados deste inverno / Flores de cor tão singela / Com os ventos carregadas / Numa harmonia exótica sem fim / De flor delicada e frágil / Cheiro peculiar levando vida ao infinito, sim / Da cor do sol ao amanhecer / Seus desenhos de guarda chuva nunca há de se esquecer / Desenhando e fecundando mais e mais vidas / No chão de nosso planeta Terra a florescer. *Goiatins ( Goiás e Tocantins)