Reflexões sobre a Praça dos Girassóis

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Em seu pleno e respeitável tamanho, com dimensões gigantescas, a Praça dos Girassóis, aqui em Palmas – To., reserva segredos universais, característicos de seu bioma cerrado, pois guarda e resguarda em si algumas definições peculiares de nossa região nas suas mais variadas espécies de árvores que ali se encontram, fazendo com que sejam preservadas em belas sombras e vidas longas as nossas fauna e flora. Ali vivem pássaros como bem-te-vis, canários da terra, joãos de barro, sabiás, pássaros pretos, galos de campina, araras azuis, e tantos outras espécies belas e singulares deste nosso Centro/ Norte do País. Cada uma delas, para quem tem os ouvidos atentos às suas sinfonias, sabe perceber que de acordo com as estação do ano que lhe seja mais propícia e cada uma abre as cortinas do seu espetáculo sonoro.

E na primavera presente, a exemplo de tantas outras que se foram, as flores regam meus olhos com tanta e tamanha beleza, que nos correr das horas do dia, várias espécies canoras, alegremente soltam os seus cantos, aonde os sabiás, divinamente anunciam o entardecer com seus cantos melancólicos e tristes.

Nesta mesma estação, incrustada neste ambiente, ali bem pertinho da Secretaria do Meio Ambiente, onde complemento o pão para sustentação da matéria, um solitário Ipê, agiganta-se e enfeita ainda mais o cenário, quando suas belas flores despetalando-se tecem um tapete mágico, combinando com o amarelo de nossos belos canários da terra.

E diante desta gigantesca obra de Deus, o que mais me chama a atenção, realmente, é a força do canto tristonho do sabiá, que me traz sempre à mente texto do poeta Augusto dos Anjos, que numa feliz composição, como sempre, associa o canto desse pássaro à morte de seu Pai: “ E ele que foi um forte/ que nunca se quebrou pelo desgosto/ Morreu…. mas não deixou na ara do rosto/ um só vestígio que acusasse a Morte!/ O anatomista que investiga a sorte das vidas que se abismam no Sol-posto/ ficaria admirado do seu rosto/ vendo-o tão belo, tão sereno e forte!/ Quando meu pai deixou o lar amigo/ um sabiá da casa muito antigo/ que há muito tempo não cantava lá/ diluiu o silêncio em litanias/ e hoje Poetas/ já faz sete dias/ que ouço o canto desse sabiá.

Embora pareça um paradoxo associar o belo canto de uma ave ao momento derradeiro de uma pessoa, momentos como esses servem para que façamos uma reflexão sobre a vida e seu tempo, fazendo um paralelo e conscientizando-nos de que como as estações, que após cumprirem seu divino ciclo, mudam e se renovam com o calendário, com os seres humanos não é diferente, somos apenas passageiros desta passageira vida, e cada um de nós carrega consigo um ciclo predeterminado pelo Criador da vida, esta vida muitas vezes cheia de mistérios que só no silêncio da reflexão somos capazes de decifrar. Mas as estações mudam e sempre chegarão novas em nosso calendário humano, diferente do deles, pois dependendo dos movimentos do tempo, seus silêncios retratam o som das chuvas e das lembranças e a saudade do eterno som emitido pelo sabiá. E como um fechar de ano humano, aves de arribação irão alçar voo e, destes novos ninhos criados, surgirão novos sons, novas sinfonias para as outras gerações.

Fonte: http://www.jornaldotocantins.com.br/editorias/opiniao/tend%C3%AAncias-e-ideias-1.456290/reflex%C3%B5es-sobre-a-pra%C3%A7a-dos-girass%C3%B3is-1.1003137

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